by Francisco Paiva, Catarina Moura (Orgs.)
Coleção: Ars
Ano da edição: 2012
ISBN: 978-989-654-138-5
Preço da edição impressa: € 17
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Sinopse
Conferência anual de investigação em Design que adopta o tema do clássico ensaio de Tomás Maldonado A Esperança Projectual, com o propósito de reflectir sobre o desempenho da criatividade em tempo de crise. O evento conta com um leque de conferencistas convidados, a par da apresentação de comunicações resultantes de um ‘blind call for papers’, a publicar.
Apresentação
Tem-se desperdiçado a oportunidade de reflectir sobre a vastidão dos problemas conceptuais e operativos colocados pelo Design, considerado como processo de projecto ou enquanto um produto que acentua a dialéctica do concreto. É da consciência dessa falta que nasce a vontade de proporcionar alguma sistematicidade à reflexão, criando rotinas de encontro capazes de gerar o sentido de comunidade de prática e de dar visibilidade a este corpus disciplinar, no todo e aos seus diversos ramos especializados, que vão da arte e da comunicação à indústria. Muitos dos temas discutidos pelos designers e pelos críticos e teóricos da cultura gravitam em torno da melhoria das condições de vida e do valor estético e económico dos produtos, tangíveis ou imateriais. Ou seja, o mundo do Design raramente é alheio aos problemas concretos da sociedade, embora seja frequentemente tomado por coisa supérflua, sobretudo nos meios mais refractários à incorporação de dinâmicas projectuais ou incapazes de alocar a criatividade a determinados fins.
A Esperança Projectual (1970) veio precisamente alertar para as diversas dimensões do Design que, pelo seu pendor ético, especulativo e económico, além das tradicionais dimensões técnicas e estéticas, ou até artísticas, podiam situá-lo na charneira entre o ambiente e a sociedade, onde surge com facilidade a Utopia.
No campo do Design, a função fenomenológica aparece aliada à sígnica -- a capacidade de criar alia-se à de ver --, cujas dinâmicas influem na aquisição de capacidade analítica sobre a interacção entre o entorno material e o ambiente humano. Nas sociedades de consumo, o Design aparece também entre a política e o indivíduo, pela intrínseca capacidade de dar forma ao desejo, ou seja, de racionalizar a necessidade e aculturar o prazer. Ora, estando o governo das coisas directamente ligado ao governo dos indivíduos, percebe-se melhor tanto a ambição de alguns artistas em liderarem a “revolução” como o apetite do poder pela “regulação” da arte.
Tanto na sua vertente visual como na material, o Design lida hoje com as previsões apocalípticas provocadas pela sobreprodução, pelo esgotamento de recursos e aumento de resíduos, agravadas pela rápida obsolescência dos bens, pela necessária optimização do trabalho e concomitante poupança energética, incorporando a necessidade de chegar a todos os públicos, incluindo os mais desfavorecidos. Mas se estes problemas acentuam a responsabilidade social dos designers, também têm contribuído para o desenvolvimento de estratégias de inovação capazes de lograr equilíbrios e de fornecer respostas que legitimam a progressiva desmaterialização, a racionalização do consumo ou mesmo a ordem económica estabelecida. Grande parte da paisagem humana é inexoravelmente ditada pelo Design. Pelo Design, aliás, as cidades tornaram-se objectos e factos de comunicação, quando não produtos. A imagem das cidades denuncia o confronto entre sistemas de signos e de marcas que suscitam interpretações semióticas capazes simultaneamente de contextualizar e de interpelar a ideologia e a vontade artísticas mais comuns. Esta espécie de arte popular acentuou as exigências de legibilidade e de eficácia. Chegando a provocar e agredir, permite actualizar os códigos e repertórios formais, aumentando a complexidade dos processos de comunicação.
A praxis projectual revela que a superação do estereótipo decorre da consciência crítica perante o concreto campo operativo e existencial do designer: a criação de realidade. Realidade que tem mudado a grande velocidade por força da introdução de novos meios, ligados tanto às artes performativas contemporâneas como aos meios e tecnologias de produção e comunicação, cujos interfaces não cessam de reconfigurar a experiência quotidiana.
Neste quadro, esta conferência procura responder a duas dúvidas fundamentais. A primeira será a de saber se o campo do Design (gráfico, visual, multimédia, industrial ou de moda) apresenta um lastro disciplinar ou académico comum, congregando um conjunto de pontos de vista inter e transdisciplinares, que permita continuar a pensar o Design em sentido lato. A segunda será a de perceber como pode o Design contribuir para desbloquear os impasses transversais a diversos campos da sociedade contemporânea, seja no campo cultural, social ou económico.
Pretende-se, pois, congregar um mosaico de contribuições que provenha directamente da investigação nos campos do Design e da suas teoria e tecnologia, mas também da estética, da semiótica, da antropologia, da sociologia e da cultura em geral. Pelo que se convidam todos os interessados a apresentar propostas nos seguintes painéis temáticos: 1. Comunicação; 2. Produto; 3. Teoria; e 4. Moda.
A Universidade da Beira Interior ministra neste momento seis cursos de Design, entre 1º e 2º ciclos. Dispõe de condições essenciais ao desenvolvimento de hábitos de reflexão centrados nos seus diferentes domínios. Através da DESIGNA, pretende abrir-se à rotina de cruzamento de actores de ideias, ciente de que a disseminação de conceitos é potenciada pelo trabalho colaborativo e em rede e que este depende muito da capacidade de convergência e encontro de investigadores em fora deste tipo.
Portugal precisa de Design! – A sociedade beneficia directamente do investimento criativo e a sobrevivência da indústria depende hoje da capacidade de inovação em produtos e serviços. A formação de designers favorece directamente o bem estar social, pela resposta a problemas concretos e, indirectamente, pela criação de valor que repercute no aumento da competitividade.
A par da componente científica, a conferência DESIGNA 2011 procura precisamente alertar para o facto de o investimento no talento poder ser visto como um factor de melhoria da qualidade de vida e até de resposta à famigerada crise.
Índice
17
QUE ESPERANÇA PROJECTUAL? Francisco Paiva
23
FASHION AND ENVIROMENT. A REFLECTION FOR RESPONSIBLE FASHION DESIGN
Giovanni Maria Conti
51
PROYECTAR CUANDO LA INCERTIDUMBRE AUMENTA
Inmaculada Jiménez Huertas
57
TIPOGRAFIA CURATIVA: UMA ESPERANÇA CONSTANTE NO COMBATE À ILITERACIA PELA FORÇA DO PROJECTO TIPOGRÁFICO
Jorge dos Reis
63
THE ROLE OF DESIGN: YESTERDAY AND TODAY
Sheila Pontis
COMUNICAÇÃO COMMUNICATION
75
OS MEDIA PARTICIPATIVOS E A IMPORTÂNCIA DO CIDADÃO E DA INSTITUIÇÃO ENQUANTO MARCAS MOBILIZADORAS NA ÁREA DA ONCOLOGIA
Nuno Duarte Martins, Heitor Alvelos,
Daniel Brandão
83
COMUNIDADES CRIATIVAS ONLINE: UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE OS PRODUTORES E CONSUMIDORES DE CRIAÇÕES DIGITAIS
Pedro Amado, Ana Veloso
91
DESIGN DE ACÇÕES CULTURAIS PARTICIPATIVAS: UM CASO DE ESTUDO NO CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE DO PORTO
Daniel Brandão, Heitor Alvelos,
Nuno Duarte Martins
97
DESIGN IN THE MAKING:
UM NOVO OLHAR SOBRE A PRÁTICA EM DESIGN DE COMUNICAÇÃO
Leonel dos Reis Brites
103
OS PROCESSOS DE SIGNIFICAÇÃO DO LIVRO NUM CONTEXTO
DE SIGNIFICAÇÃO HÍBRIDA
Ana Catarina Silva
113
CONTRIBUTO PARA UM MUSEU DO WEB DESIGN PORTUGUÊS: PRESERVAR
O PROJECTO E O OBJECTO IMATERIAL Sandra Antunes, Vasco Branco
119
O IMPACTO COMUNICATIVO DA MARCA: APRESENTAÇÃO DE UMA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA MARCA
Álvaro Sousa
MODA FASHION
127
DESFILE DE MODA, ESPECTÁCULO DE ARTE E DESIGN
Ana Luiza Olivete
133
TAILORING A FUTURE IN WHICH CLOTHES GROW FROM BACTERIA
Isabel C. Gouveia, Marta A. Ferraz
141
VESTUÁRIO INTELIGENTE
E TECNOLÓGICO EM PORTUGAL: ANÁLISE DAS NECESSIDADES DO MERCADO PORTUGUÊS
Gianni Montagna, Hélder Carvalho, Cristina Carvalho
151
O CORPORATIVEWEAR COMO PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO DOS RESÍDUOS TÊXTEIS ENQUANTO AGENTE DE REDESIGN DE UMA MARCA DE VESTUÁRIO STREET-WEAR
Carla Morais, Cristina Carvalho,
Cristina Broega
159
A INDÚSTRIA CRIATIVA DA MODA E O DESIGN PORTUGUÊS
Alexandra Cabral
169
CULTURA DE MODA, IDENTIDADES E ENVELHECIMENTOS DO CORPO REVESTIDO
Geni Pereira dos Santos
175
VESTUÁRIO INTELIGENTE COMO UMA EXTENSÃO ESTÉTICA E FUNCIONAL DO CORPO
Isabel Trindade, Madalena Pereira,
José Lucas, Manuel Santos Silva, Rui Miguel
181
VALOR PERCEBIDO PELO CONSUMIDOR E ATRIBUTOS PARA PROJETAR O VISUAL MERCHANDISING DE MARCAS DE MODA PARA E-COMMERCE
Paulo Martins, Madalena Pereira,
Susana Azevedo, Rui Miguel
PRODUTO PRODUCT
191
PERSPECTIVAS DE INTEGRAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO DOS DESIGNERS INDUSTRIAIS
Inalda Araci L. L. M. Rodrigues, Denis A. Coelho
207
SHARP:
COLABORAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PARAMETRIZÁVEL DE TYPE DESIGN Pedro Amado, Ana Veloso
219
CONTRIBUTOS PARA O ESTUDO DA FORMA: DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO COMPUTACIONAL APLICADO À CADEIRA
Sara Garcia, Luis Romão
227
O MÉTODO DA BIÓNICA NUM PROJECTO DE DESIGN TÉCNICO
Stefan Rosendahl, Alcina Pato
Vasile Ros, Marta Gonçalves
235
NOVO NORMAL Afonso Borges
241
DESIGN AUTOMÓVEL PORTUGUÊS: UTOPIA OU SOLUÇÃO?
Paulo Dinis, Fernando Moreira da Silva
247
O DESIGN DE OURIVESARIA E JOALHARIA EM PORTUGAL NO SÉCULO XXI
Cláudia Teixeira
255
NOVOS TERRITÓRIOS DO DESIGN DO PRODUTO
Ricardo Filipe Duarte Cabral, Liliana Soares Ermanno Aparo
TEORIA THEORY
267
DESIGN E PENSAMENTO LATERAL NO ENSINO, PARA O ESTÍMULO DA CRIATIVIDADE
Liliana Reis de Jesus, Florbela Espanca Rosa Maria Oliveira, Isabel Amorim
281
A ALMA DOS OBJECTOS Manuel Albino, Cláudio Ferreira, Paulo Simões
291
THE FINE ARTS, AN IMPORTANT CONTRIBUTUION FOR THE DESIGN STUDIES
Theresa Beco de Lobo
301
LA HISTORIA DEL DISEÑO Y LA ÉTICA DE LA PROFESIÓN: HERRAMIENTAS PARA LA ESPERANZA PROYECTUAL
Antoni Mañach Moreno
317
A CAMPANHA DO BOM GOSTO OU ANÁLISE DE UMA TENTATIVA DE DOUTRINA ESTÉTICA NUM PAÍS AUTORITÁRIO
Carlos Bártolo
323
OBJECTOS DE INFORMAÇÃO. NOTAS PARA UMA DISCUSSÃO FENOMENOLÓGICA DO DESIGN DE COMUNICAÇÃO
Sara Velez
329
O DESAFIO DO DESIGN Pedro Cortesão Monteiro
POSTERS
337
A INDÚSTRIA JOALHEIRA EM PORTUGAL: DESIGN DO LUXO
Susana Rodrigues
341
A FIGURA DO BRICOLEUR E O DESIGN. A COMPOSIÇÃO DE CORPUS NA FRATURA DAS INTERFACES
Maria José Barbosa, Pedro Lopes Almeida
345
FAST-FASHION:O ENCURTAMENTO DO CICLO DE VIDA DE PRODUTOS DE MODA
Carolina Carpinelli Caetano,
Maria Silvia Barros de Held,
Ana Julia Melo Almeida
351
THE BODY AS A CULT OF FASHION
Catarina Isabel Duarte Soares,
Maria da Graça Guedes
355
O NOVO LUXO
Ana Meira, Nuno Sá Leal
359
OBJECTO/ESPAÇO E TECNOLOGIA: DO CONCRETO PARA O ABSTRACTO
Júlio Londrim de Sousa Cruz Baptista
365
TRANSFORMER - ESPAÇO, TEMPO, LUZ
E COR - DUALISMO ENTRE ARQUITECTURA E DESIGN: O DISCURSO
DA MUTABILIDADE DO EFÉMERO
Raquel Filipa Ferraz Nunes
371
INTERFACES DE MODA TECNOLÓGICA: UM CAMINHO PARA A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL NO ESPAÇO REAL
Sílvia Soares, Madalena Pereira
375
DESIGN AND HANDCRAFT: EXPERIENCES OF A STUDY
Ângela Sá Ferreira, Maria Manuela Neves Cristina S. Rodrigues
377
PROJECÇÃO, ACÇÃO E CONCRETIZAÇÃO NÃO SÃO SINÓNIMOS
Bruno Urbano