“Miguel Real” nasceu no dia em que o Luís Martins se zangou consigo mesmo, dando conta disso em Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante (1987), seu primeiro livro. O Luís Martins era marido, pai e professor de filosofia no ensino secundário. O Miguel Real separou-se do Luís Martins, achou que não era suficiente ser como todos são, e, aos 34 anos, começou a escrever segundo três dimensões – a da ficção, que iniciara ainda como aluno da Faculdade de Letras de Lisboa, a da investigação sobre a cultura portuguesa e a da filosofia.
Não houve um plano, houve uma determinação, um acto originário da consciência, e os livros foram-se sucedendo um pouco circunstancialmente, ao abrigo de convites para participação em congressos académicos, em viagens culturais a África, à América Latina, à Índia, mas hoje, olhando para trás, percebe-se terem sido constantes (i) a exploração de temas ligados à filosofia, (ii) uma escrita de natureza estético-ficcional e, ainda, (iii) sobre questões vinculadas à identidade nacional.
Sobre esta última temática, devo salientar que me foi estimulada, e bastante, por um aluno do 12o ano, o Rui Lopo, hoje doutorando em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. Interrompia-me as aulas falando sobre o pensamento de Agostinho da Silva, relacionando-o com a matéria leccionada nas aulas. Eu nada sabia sobre a filosofia em Portugal e via-me constrangido a confessá-lo. Para ultrapassar este meu defeito cultural (no tempo do meu curso, finais da década de 1970, não existia a cadeira de Filosofia em Portugal no currículo universitário), comecei a estudar este tema de um modo autodidáctico. E, lentamente, fui-me apaixonando por ele. Devo ao Rui Lopo uma parte da minha vida intelectual.
Porquê três dimensões e não uma só? Não sei. Não tinha editora e concorri aos Prémios Revelação da Associação Portuguesa de Escritores, ao de Ficção (O Outro e o Mesmo, 1980, ainda com o meu nome verdadeiro), e ganhei, consolidando em mim a necessidade de uma satisfação estética da sensibilidade, e ao de Ensaio, e ganhei de novo (Portugal – Ser e Representação, 1998), consolidando em mim a necessidade de uma exploração do universo ligado ao raciocínio analítico, a temas da História e da Filosofia. Ficção para satisfação da sensibilidade, reflexão filosófica e relativa à cultura portuguesa para satisfação do entendimento. Estávamos ainda no século XX. Desde então saiu em média um livro por ano. Por vezes, dois. Estes dois prémios “Revelação” foram-me muito, muito estimulantes: ganhei o gosto da escrita, da disciplina do pensamento e da indisciplina da imaginação.
Desde o princípio deste século, tenho acompanhado quinzenalmente, no “Jornal de Letras, Artes e Ideias”, sob a direcção de José Carlos de Vasconcelos, a evolução do romance português e a irrupção de uma novíssima geração no campo da ficção. Disso dei conta em Romance Português Contemporâneo – 1950 – 2010 (2011), um ensaio polémico, cujas teses, aceites por uns, contestadas por outros, se tornaram uma referência de consulta obrigatória na actual historiografia literária. Prova: as duas edições esgotadas em Portugal e as anunciadas traduções para o Brasil e a França este ano de 2018.
De Portugal – Ser e Representação (1998, Prémio Revelação Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores) a Traços Fundamentais da Cultura Portuguesa (2017), fui percorrendo um itinerário inquiridor sobre a identidade histórica de Portugal através da análise da obra dos seus importantes protagonistas: Marquês de Pombal, 2005; Eça de Queirós, 2006; Agostinho da Silva, 2007; Eduardo Lourenço, 2008 – Prémio Jacinto do Prado Coelho da Associação Portuguesa de Críticos Literários; padre António Vieira, 2008; Matias Aires, 2008; José Enes, 2009; Comentário a Mensagem de Fernando Pessoa, 2013; Sebastianismo em 2014, e, finalmente, em colaboração com Filomena Oliveira, minha mulher, publiquei, em 2016, O Teatro na Cultura Portuguesa do Século XX.
Foi a totalidade destes ensaios, a que se deve acrescentar Fátima e a Cultura Portuguesa (2018), bem como a participação em inúmeros congressos sobre a realidade histórica, social e cultural de Portugal, que prepararam a publicação de Traços Fundamentais da Cultura Portuguesa (2017), que – devo confessá-lo - considero um dos livros mais bem conseguidos dentro da qualidade mediana da minha escrita.
Devido à integração europeia e à globalização, a cultura portuguesa tem sofrido uma mutação fundamental. De paroquial em grande parte do século XX, tornou-se cosmopolita, hedonista e relativista. Era necessário demarcar estas novas qualidades, bem como evidenciar os aspectos multiculturais sofridos no campo sociológico dos costumes.
Abordam-se, assim, o importantíssimo papel das Ordens Religiosas na formação dos traços fundamentais da cultura portuguesa, a viragem hermenêutica operada no final do século passado sobre a “lenda negra” dos Jesuítas (José Eduardo Franco), o debate sobre o papel dos “estrangeirados” (António Pinto Ribeiro), a nova cultura urbana, a questão do pessimismo nacional, a questão anteriana da Decadência ou do Declínio, a abertura multicultural de Guilherme d’Oliveira Martins, as novas e importantes propostas culturais de Bragança de Miranda e Moisés Lemos Martins, o neo-criticismo de Boaventura de Sousa Santos, a saudade, a lusofonia, o marranismo...
Defende-se ser o actual momento da cultura portuguesa o de um “intervalo civilizacional”, pois já não somos o que fomos, mas ainda não sabemos o que actualmente somos, condicionante do que doravante seremos. Possuímos hoje uma forte cultura científica, mas milhões de nós fomos a Fátima em Maio; pela primeira vez, tínhamos deixado de ser emigrantes, constante cultural portuguesa desde os séculos XVI/XVII, passámos a ser terra de acolhimento de imigrantes; porém, na última década a emigração retornou em força; éramos um povo lento e passivo, com pouquíssima participação cívica – continuamo-lo a ser? As elites, continuam a ser autistas, poderosas e a desprezar a população? Quais os efeitos na mente dos portugueses da perda do Império: uma genuína amputação histórica ou o desembaraço de algo que nos pesava? Instituições tradicionais vão fenecendo a nosso lado: o modelo clássico da família, as Forças Armadas como povo em armas, a escola como modelo do saber... Não há respostas unívocas e definitivas para estas questões, mas do seu desenvolvimento actual e futuro dependerá em grande parte a nossa história até ao final deste século.
O campo do ensaio reflexivo levou-me à escrita de três livros sobre a Ética (Nova Teoria do Mal, 2012: o Mal como valor absoluto, real, não metafísico nem teodiceico, uma espécie de teoria naturalista do mal; Nova Teoria da Felicidade, 2013: a felicidade como valor superior da ética, e Nova Teoria do Pecado, 2017: o pecado, o medo e a culpa como sustentáculos da civilização ocidental), bem como à reflexão sobre a história e a teoria do corpo em Manifesto em Defesa de uma Morte Livre (2015), sobre a religião em O Futuro da Religião (2014) e sobre a situação histórica e política de Portugal em Portugal – Um país parado no meio do caminho – 2000 – 2015 (2015). São livros em que tento pensar com alguma originalidade, sem copiar teses alheias, ainda que, não raro, me inspire em autores nacionais ou estrangeiros. Porventura, o melhor livro desta série será O Pensamento Português Contemporâneo. O Labirinto da Razão e a Fome de Deus. 1890 – 2010 (2011), no qual, ainda que imperfeita, tentei esboçar uma nova perspectiva da história da filosofia em Portugal.
No campo da narrativa ficcional, tenho escrito teatro com Filomena Oliveira. Entre várias peças, Uma Família Portuguesa, 2008 – Grande Prémio de Teatro Sociedade Portuguesa de Autores/Teatro Aberto; Vieira – O Céu na Terra, representado em Portugal, no Brasil e na Guiné-Bissau; Europa, Europa, 2016, representado no mesmo ano pela companhia de teatro Éter na Quinta da Riba Fria, um palácio renascentista em Sintra, e As Máscaras de Pessoa, 2018, sobre o labirinto mental da heteronomia pessoana. Fizemos igualmente a adaptação dramatúrgica dos romances de José Saramago, Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, representadas pela Éter no Convento de Mafra e na Fundação José Saramago.
No campo do romance histórico, dediquei-me em grande parte à presença portuguesa no Brasil ao longo de 400 anos: Memórias de Branca Dias (a primeira judia no Pernambuco/Brasil, 2003), A Voz da Terra (sobre o Terramoto de 1755, com personagens brasílicos, 2005: Prémio Ficção Fernando Namora 2006), O Último Negreiro (sobre Francisco Félix de Sousa, o último grande negreiro de Ajudá no Dahomé/Benim, 2006), O Sal da Terra (a vida de Pe. António Vieira, 2008), e A Guerra dos Mascates (a guerra entre Olinda e o Recife em 1710, 2011). Constituiu expressão de uma fase brasílica na minha vida, todos os anos ia ao Brasil e durante cinco meses, com uma bolsa do Centro Nacional de Cultura, percorri todas as cidades onde pe. António Vieira viveu e pregou. Esta paixão pela cultura brasileira entre 2001 e 2010 prolongou-se na escrita de dois álbuns: um, Atlântico. A Viagem e os Escravos (2005), sobre o fluxo dos escravos africanos para o Brasil, com desenhos de Adriana Molder e fotografias de Noé Sendas; outro, As Missões. Bandeirantes, Jesuítas e Guaranis (2009), com imagens de Graça Morais. A partir de 2011, ganhei nova paixão, sobre o Oriente – encetei viagens na Índia e em Macau, descritas em dois romances.
No campo do romance, publiquei ainda O Último Minuto na Vida de S. (sobre a relação amorosa entre Snu Abecassis e Francisco Sá-Carneiro 2007), O A Ministra (2009), As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia (2010), O Feitiço da Índia (sobre a colonização portuguesa de Goa, 2012), A Cidade do Fim (sobre a presença portuguesa Macau, 2014) e O Último Europeu (uma utopia/distopia projectada para 2284, 2015). Em 2016, escrevi a quatro mãos, com Manual da Silva Ramos, num estilo satírico e surrealista, a novela O Deputado da Nação.
Pessoalmente, considero A Visão de Túndalo por Eça de Queirós, a revelação de um manuscrito inédito (falso) deste autor, publicado em 2000, Prémio Ler/Círculo de Leitores, um dos meus romances mais bem conseguidos.
Porque “Vaca Malhada” é uma revista de Filosofia, permita-se-me que desenvolva um pouco mais a série “Novas Teoria de...”. Nela, intento pensar de raiz os conceitos tematizados, o Mal, a Felicidade, o Sebastianismo, o Pecado. Não existe um plano, mas existe uma orientação geral que comanda a escolha dos temas: o Mal como ontologicamente superior ao Bem e a Cultura (a Ética, a Moral) como tentativa de superação ou suavização do Mal; como deve ser hoje entendida a Felicidade enquanto suprema finalidade moral da vida (Aristóteles) e, no ano de 2017, o Pecado como desvirtuamento das pulsões do corpo imposto pelo Cristianismo enquanto motor máximo da civilização e cultura ocidentais.
Em Nova Teoria do Mal defendemos que o mal é universal e absoluto, e o bem, pensado como harmonia e perfeição activa, existe apenas de um modo provisório e temporário. Neste sentido, o bem é apenas um arranjo que perdura, um equilíbrio que se mantém, auto-replicando-se. Deste modo, o mal é substancial, o bem acidental; o mal é um estado permanente; o bem um estado humano provisório; o mal é ontológico, o bem ôntico; O mal é ético, princípio maior de inspiração ética; o bem, da moral; o mal é a acção natural, o bem uma reacção, um artifício para aplacar e controlar o mal.
Cruzando filosofia e história, Nova Teoria do Sebastianismo, para além de uma pequena história do conceito, desenvolve-se, de certo modo, o conceito de sebastianismo como a consciência simbólica do máximo ser profundo (inconsciente) de Portugal, segundo a terminologia de Eduardo Lourenço. Efeito de um delírio mental provocado pela ruptura social e civilizacional de Alcácer Quibir, o sebastianismo constitui a expressão do desejo popular de normalização social e de prosperidade económica de uma população desde então (século XVII) desprezada pelas elites políticas até à irrupção da democracia no 25 de Abril de 1974. Constitui, assim, um ensaio que reflecte sobre o mito sebastianista como alucinação racionalmente falsa mas sentimentalmente verdadeira e nos dá a conhecer os autores que trataram o tema, desde Bandarra e Padre António Vieira até aos filósofos contemporâneos, passando por Fernando Pessoa, António Quadros, António Sérgio e Eduardo Lourenço.
No livro publicado em 2017, Nova Teoria do Pecado, destaco o supremo pecado do Cristianismo, o de se ter transformado de religião e vivência europeias do sagrado em Poder político institucional, negando e oprimindo, ao longo de mil e quinhentos anos, as restantes religiões e complexos comportamentais (os costumes), substituindo-os por uma mentalidade virtuosa segundo os preceitos evangélicos ou bíblicos, impostos por um Estado opressivo e totalitário. Com o pretexto da eliminação do paganismo latino (mediterrânico) e celta (os povos ditos “Bárbaros”), inclusive dos deuses presentes milenarmente na Península Ibérica, o Cristianismo constituiu-se como uma genuína máquina de eliminação civilizacional daqueles povos, o que hoje designaríamos por etnocídio cultural. Conclui-se ser o homem, primitiva e antropologicamente, um cruzamento de mal e medo, confluindo amos na atracção e no temor do pecado. Este une o mal ao medo e o medo ao mal numa simbiose perfeita de malignidade e culpabilidade. Deste modo, ao longo dos últimos dois mil anos, o pecado (o indecente, o sujo, o imundo, o vergonhoso, o rejeitado, o obsceno, o banido, o impuro, o indigno, o abjecto, o infame, o irracional, a transgressão, o crime...), ainda que socialmente excluído, exerceu um poder de atracção mental tão forte quanto os mandamentos morais como expressão do bem. Ambos, virtude - expressão da ética e da moral - e pecado - expressão da imoralidade e da devassidão, da “iniquidade”, como diria São Paulo - têm convivido numa tensão paradoxal nos últimos dois milénios. Supremo inimigo cultural do Cristianismo: o corpo e as suas emoções, ditos sede ou expressão do Demónio, este entronizado miticamente como figura universal do Mal. Em Nova Teoria do Pecado, não desenvolvemos a teoria do Corpo na Europa ao longo do poderoso domínio do Cristianismo porque já o tínhamos abordado e explorado no livro Manifesto em Defesa de uma Morte Livre (2015). Por isso, porque as emoções/paixões se constituem como o supremo inimigo civilizacional do Cristianismo, o pecado constitui a categoria filosófica e religiosa sobre a qual a Europa cristã assentou as suas constantes culturais e civilizacionais. Dito de outro modo, a categoria sobre a qual edificou o Poder, o poder religioso, mas sobretudo o poder político e social. Quando se refere que a Europa cristã ergueu a sua civilização com base na categoria religiosa de pecado diz-se, consequentemente, que ela assentou a sua civilização sobre o modo singular de viver com a emoção primária de Medo e com o sentimento de Culpa. Medo e Culpa constituem as duas colunas ético-morais que sustentam o edifício do Pecado. Por isso, Pecado, Medo e Culpa constituem o triângulo ético-religioso abordado neste ensaio. Hoje, no Intervalo Civilizacional em que vivemos, sabendo donde viemos mas desconhecendo o nosso futuro, nenhum conceito é mais ambíguo que o de “pecado”, profundamente indefinido no seu complexo semântico referencial. Porém, o abandono voluntário pela Europa de uma vivência do pecado não significa idêntico abandono de uma consciência culpada. Pelo contrário, toda a filosofia prova, de Kierkegaard e Nietzsche a Heidegger, Levinas e Merleau-Ponty - e, em Portugal, de Pedro Amorim Viana e Antero de Quental a Leonardo Coimbra e Paulo Borges -, a existência de um sentimento de culpa, latente e pulsante no coração do homem. Com excepção dos violentos, os actos ontem vistos como pecaminosos são hoje considerados meros “desvios”, “infracções” ou “transgressões” em relação ao pensamento e à acção socialmente dominantes, não forçando o seu agente à exclusão, à vergonha, à abjecção, ao ostracismo, muito menos à queima numa fogueira inquisitorial. Em Nova Teoria do Pecado intenta-se, assim, compor uma biografia deste conceito, recuperando, sob e sobre a ética e a moral cristãs de pecado, profundamente excludente e totalitária, o conceito de Pecado segundo a civilização e a cultura gregas (amartia), que o não teriam elevado a uma natureza sagrada, tratava-se de um assunto exclusivamente humano. Assim, a visão cristã de pecado cruza simultaneamente a tradição greco-latina de falhar o alvo, de se enganar, de cometer um erro, de se desviar do caminho certo (amartia), com a tradição judaica do estabelecimento de uma intenção de revolta, de contestação, seja contra a instituição igreja e o seu corpo de prescrições sociais, dimanadas da cúria romana, seja contra deus, ele próprio, isto é, como aversio a Deo et conversio ad bonum creatum, hipostasiando ambas as tradições num cúmulo absoluto de sagrado, fora do qual reinaria a “iniquidade” de S. Paulo e o “demónio”, “príncipe do mal”, da igreja romana.
Devo terminar com uma confissão íntima: não me considero um grande teórico da filosofia e da identidade cultural portuguesa, como não me considero um grande romancista. Mas também não me vejo, nestas vertentes, como habitando em vales medíocres e lamacentos. Considero-me – apenas – como um autor mediano, não genial nem medíocre, e fraco se comparado com os grandes (em Portugal, José Saramago, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís, Eduardo Lourenço ou Fernando Gil, por exemplo), ainda que possuidor de qualidade suficiente para ser lido por uma imensa minoria de leitores.
No final, não posso deixar de agradecer à Vaca Malhada e ao Luís Ladeira a motivação para escrever esta autobiografia imperfeita, tão imperfeita como tudo o que tenho feito na vida pública e intelectual. Ao contrário, na vida íntima tenho sido imensamente feliz e, portanto, tenho tido uma vida “perfeita”.
Miguel Real,
Quinta de Santo Expedito,
Colares – Sintra,
23 de Fevereiro de 2018.
1 Texto escrito para a Revista Vaca Malhada (Miguel Real, “Autobiografia Imperfeita”, Vaca Malhada - Revista de Filosofia dos Estudantes da Universidade do Minho).