Apresentação


O departamento de Letras da Universidade da Beira Interior (Covilhã, Portugal) e a Casa da Cultura “José Marmelo e Silva” associam-se numa merecida homenagem a José Marmelo e Silva na data do 25º aniversário da sua morte.
A sua obra ficcional, publicada entre 1937 e 1984, associa-se à tendência literária do movimento Presença, revelando características estéticas únicas que traçam delicadamente o caminho para a libertação e afirmação do Homem.
Sendo José Marmelo e Silva um exemplo ímpar de vanguarda, esta iniciativa académica e cultural pretende despertar o público para a obra de um dos mais notáveis nomes da literatura contemporânea portuguesa.

Datas importantes


  • Submissão de propostas de comunicação: até 30 de agosto
  • Comunicação de resultados: até 22 de setembro
  • Inscrições: até 30 de setembro (ver condições de inscrição)
  • Homenagem a José Marmelo e Silva: 10 e 11 de outubro
  • Submissão de textos (por autores com proposta aprovada): até 28 de outubro

Convidados


Álvaro Manuel Machado

Álvaro Manuel Machado é professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutorado com “Doctorat d’État” em Literatura Comparada pela Sorbonne (Paris III), em 1985. Foi fundador e diretor do Instituto de Estudos Românicos Comparados (IERC), na Universidade Nova de Lisboa. Com uma longa carreira académica, orientou numerosas teses de mestrado e de doutoramento. É autor de variadíssimas obras de ensaio, crítica e investigação científica, contando igualmente com uma reconhecida e premiada obra ficcional.

António dos Santos Pereira

António dos Santos Pereira é docente desde 1976 e investigador universitário das áreas das Letras e das Ciências Sociais e Humanas, atualmente integrado no Labcom.IFP da UBI. Publicou mais de uma centena de títulos e tem orientado dissertações de mestrado e teses de doutoramento sobre temática diversa. É professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade da Beira Interior onde é também membro do Conselho Geral, diretor do Museu de Lanifícios e académico correspondente da Academia Portuguesa da História.

Arnaldo Saraiva

Arnaldo Saraiva é professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, investigador científico e literário, ensaísta, cronista e poeta. Licenciado em Filologia Românica, doutorou-se na Faculdade de Letras do Porto com a tese O Modernismo brasileiro e o Modernismo português. Investigador especializado também nas áreas da literatura oral e marginal, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Pessoanos. Atualmente, é Professor Emérito da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Daniel-Henri Pageaux

Daniel-Henri Pageaux é membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (classe de Letras) e membro de comissões de redação de diversas publicações. Doutorado com “Doctorat d’État” pela Sorbonne Nouvelle (Paris III), em 1975, com a tese L’Espagne devant la conscience française au 18ème siécle. Nesse mesmo ano, foi nomeado regente de uma cadeira de literatura comparada (Literaturas Ibéricas) na Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris III). Foi presidente da SFLGC / Société française de Littérature général et comparée de 1977 a 1979 e entre 1981 e 1983. Cumpriu diversos mandatos como diretor da UFR de Littérature général et comparée e do CRA / Centre de recherches africaines.

Programa

Dia 10 de outubro

9h30 – 10h - Sessão de abertura
10h – 11h - Conferência
José Marmelo e Silva: sedução e melancolia - Álvaro Manuel Machado (Universidade Nova de Lisboa)
11h – 11h30 - Pausa para café
11h30 – 12h25 - Comunicações livres (20 minutos cada)
11h30 - Desnudez Uivante, de Marmelo e Silva: um inferno feminino num Éden português. - Cristina Costa Vieira (UBI)
11h50 - Sedução de José Marmelo e Silva – o retrato de Noémia ou o outro de mim? - Isa Vitória Severino (IPG)
12h10 - Casa da Cultura Marmelo e Silva: Subsídios para a Classificação de Dinâmicas Interculturais - Maria da Graça Sardinha (UBI), João Machado (IPCB)
12h30 – Debate
12h50 - Pausa para almoço
15h - Ateliê de leitura comentada – Universidade da Beira Interior
18h - Reencontro com José Marmelo e Silva – Biblioteca Municipal (Organização da Câmara Municipal da Covilhã)

Dia 11 de outubro

9h – 10h - Conferência
A arte de contar em "Depoimento" de José Marmelo e Silva – Daniel-Henri Pageaux (Sorbonne Nouvelle/Paris III)
10h10 – 11h10 - Conferência
Historicidade em “Sedução” e “Adolescente Agrilhoado” de José Marmelo e Silva – António dos Santos Pereira (Universidade da Beira Interior)
11h10 - Pausa para café
11h40 – 12h40 - Conferência
A educação e a deseducação sentimental e social em “Adolescente Agrilhoado” e em “Manhã Submersa” – Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto)
12h40 - Sessão de encerramento
15h - Visita à Casa da Cultura Marmelo e Silva
Partida da entrada principal do Pólo 1 da Universidade - Rua Marquês d'Ávila e Bolama (o transporte dos participantes no colóquio será realizado mediante inscrição para o email jms.letras.ubi@gmail.com até dia 6 de outubro)

Resumos



10 de outubro

Conferência

Partindo do conceito de pensamento de George Steiner (Dez razões (possíveis) para a tristeza do pensamento, 2015), baseado na teoria de Schelling, segundo a qual «o pensamento é rigorosamente inseparável de uma “melancolia profunda”» e «carrega em si um legado de culpa», analisa-se especificamente o romance Sedução. Essa análise aborda os seguintes itens:
  1. Géneros literários e modelos estrangeiros: abordagem comparatista geral e introdutória da obra de José Marmelo e Silva (André Gide e outros).
  2. Sedução como “romance de formação” (bildüngsroman), género característico dos ficcionistas da Presença.
  3. O “romance de formação” relacionado com o espírito do lugar e a educação religiosa: sedução erótica e sentimento de culpa, pensamento e melancolia.

Comunicações livres

A Madeira, que Marmelo e Silva conheceu efectivamente, na qualidade de alferes, vivia então Portugal uma pretensa neutralidade ao tempo da II Guerra Mundial, escondia debaixo da antonomásia Pérola do Atlântico infernos que se agudizavam sobremaneira quando as pessoas em causa pertenciam ao género feminino. Essa realidade acaba por ser ficcionalmente transposta para o universo de diversas personagens de Desnudez Uivante, sejam elas meninas e adolescentes fechadas num orfanato, o Asilo de Santa Úrsula, pequenitas de bairros pobres, expostas a todo o tipo de miséria, criadas de um Eden-Hotel, onde são “pau para toda a colher”, bordadeiras exploradas até à exaustão das forças físicas, prostitutas, seja de rua, seja de luxo, e até mulheres de oficiais. O espaço que é esse Eden-Hotel pode, pois, ser considerado uma sinédoque de toda a Madeira, tal como ela está ficcionalizada no último romance de Marmelo e Silva, porventura o mais autobiográfico de toda a sua obra, e por isso o mais inquietante nas denúncias aí patentes. Nesta comunicação ver- se-á como a focalização do narrador autodiegético, alferes José Luís Jordão, não isento de pecadilhos, mas com uma aguda consciência social, prefere pôr a nu os uivos femininos, a abafá-los, num espaço insular por ele descrito e definido ab initio da seguinte forma: “Do Funchal a Machico, nada de maravilhoso, nada de imprevisível. (Ou seria torpor dos meus sentidos?) Alguma singularidade tropical mais viva tentou-me a associar-lhe generosamente Milton, Paradise Lost. A Madeira é uma possessão inglesa. Ilha perdida?” (576). O protagonista-narrador já tivera esta impressão quando, em conversa com Madre Yolanda, a responsável pelo Asilo de Santa Úrsula, lhe confessa haver feito havia cinco anos um cruzeiro até àquela ilha e sentido que esta era “um éden acabado de criar”, mas sem perder “a noção do real. No percurso de tantas maravilhas, as lágrimas da gente que nos olhava da porta das cabanas...” (592). Em suma, analisaremos aqui estes infernos privados femininos ocorridos num pretenso Paraíso terreal.
De entre os temas e dramas universais que a literatura recupera como fonte de inspiração, a relação entre irmãos tem particular destaque e, por vezes, assume uma feição exacerbada de admiração ao ponto de desencadear uma incompatibilidade e desejo de anulação do outro.
A história de Abel e Caim do Livro de Genesis reflete este drama familiar, tal como o poema Caim de Lord Byron ou ainda a novela Abel Sanchez do escritor espanhol Miguel de Unamuno.
No âmbito desta merecida homenagem a José Marmelo e Silva, iremos analisar a novela Sedução que põe em destaque a luta entre irmãos – Eduardo e Noémia – que foram cavando um abismo intransponível.
Assim, é nosso objetivo analisar o discurso do narrador autodiegético, de modo a averiguar a sua veracidade. Os factos por ele narrados correspondem à autenticidade dos acontecimentos ou será que Eduardo Forjaz forja, ao longo da narração, o retrato de Noémia para ocultar o outro de si?
A Casa da Cultura Marmelo e Silva, situada no Paul, concelho da Covilhã, vem desenvolvendo, desde o seu início, atividades de dinamização que captaram, desde logo, a nossa atenção pela dinâmica intercultural que lhe está subjacente.
Neste âmbito, propomo-nos atribuir uma classificação aos códigos interculturais ali trabalhados que vão desde as realizações mais tradicionais como as literárias, históricas e artísticas, às realizações de usos e costumes de uma determinada zona geográfica, neste caso, o Paul.
Corroboramos Lourdes Miquel e Neus Sans (2004) para quem a interação entre língua e cultura deve assentar numa perspetiva integradora e globalizadora. No entanto, pese embora a crença do conceito de Cultura enquanto manifestação de vida de uma comunidade, a nossa comunicação se por um lado veicula a própria democratização da cultura, por outro, advoga a necessidade de se desenvolverem atividades capazes de proporcionar aos sujeitos a consciência de si mesmos, na sua relação com o meio, mas igualmente numa perspetiva de universalidade.

11 de outubro

Conferências

A «novela» Depoimento foi publicada inicialmente na revista Presença, no n.º 1 de 1939. Menos de um ano depois, o seu autor, José Marmelo e Silva, assinava, juntamente com Guilherme Castilho e João Campos, uma «carta aberta» aos directores da revista manifestando-se pela continuidade de publicação da revista que representava para eles «a primeira verdadeira lição de lucidez, amplificação, cultura». Estes factos parecem-me ser suficientes para provar que a novela Depoimento se insere no movimento «presença», apesar de, posteriormente, outras obras de Marmelo e Silva terem levado a crítica a situar este escritor numa fase de transição entre «presencismo» e «neo-realismo».
Todavia, devemos ter em conta uma certa prudência da parte de determinados críticos, por exemplo Eduardo Lourenço, num artigo sobre «A ficção dos anos 40», considera possível situar Marmelo e Silva no campo do neo-realismo «numa versão muito só dele». Refira-se, enfim, a opinião de José Saramago, numa nótula publicada na Seara Nova: «José Marmelo e Silva há-de vir a dar muitas dores de cabeça aos historiadores da nossa literatura».
Confesso ter ficado impressionado pelo «perigo» anunciado pelo autor de Memorial do convento… Eis a razão pela qual o princípio que orientou a minha «leitura» de um texto que é também uma homenagem muito especial ao Convento de Mafra foi o de pôr em relevo a sua originalidade, o que chamo “uma arte de contar”, que, de certo modo, acaba por tornar inútil, a nível de uma abordagem estética, toda e qualquer tentativa de classificação.
Pretende-se confrontar os tempos e os espaços das duas narrativas, com o tempo e o espaço histórico-geográficos referenciados em conjugação com a real biografia do autor. Demonstra-se que o talento e a formação deste o colocam acima de todas as escolas em que se queira enquadrá-lo, não negando porém a sua superior formação clássica e a defesa da dignidade e liberdade humanas em uma demonstração humanista que fica bem em todas as gerações, nele marcada por um certo psicologismo que advém da sua formação. Destacam-se também as questões de rutura que Marmelo e Silva traz à colação nestes dois romances, entre elas, a da sexualidade.
O personagem padre, seminarista e ex-seminarista tem sido privilegiado por ficcionistas internacionais e nacionais - desde Stendhal, Herculano ou Bernardo Guimarães –, geralmente para denunciarem ou combaterem arreigados modelos de formação religiosa, intelectual e sexual, ou simplesmente: humana. Marmelo e Silva e Vergílio Ferreira não fugiram à regra: valendo-se da sua própria experiência, por sinal no mesmo seminário beirão em que ainda conviveram, eles deram conta, com expressivas semelhanças e diferenças, dos problemas que - dentro ou já fora do “microcosmos do internato” religioso, onde não era difícil ver o transunto de um Portugal pobre, atrasado e salazarento –, tiveram de enfrentar os que sonhavam com uma escola sadia, “risonha e franca” e afinal foram marcados, se não traumatizados, por uma escola beata, autoritária e repressiva.

Inscrição


A participação nas conferências é gratuita, contudo deverá ser confirmada por correio eletrónico (jms.letras.ubi@gmail.com):

  • Participantes com comunicação – até dia 30 de setembro
  • Público em geral – até dia 6 de outubro

Comissões


Comissão organizadora
  • Departamento de Letras
Comissão científica
  • António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro)
  • Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto)
  • Celina Silva (Universidade do Porto)
  • Cristina Costa Vieira (Universidade da Beira Interior)
  • Maria da Graça Sardinha (Universidade da Beira Interior)
  • Maria de Fátima Marinho (Universidade do Porto)

Eventos


10 de outubro


15h - Ateliê de leitura comentada – Universidade da Beira Interior

Sessão de leitura e comentário de três excertos da obra romanesca de Marmelo e Silva, selecionados por Cristina Vieira (Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior - docente de Literatura Portuguesa Contemporânea).

Duração: 45 minutos
Público-alvo: Comunidade académica, docentes e estudantes do ensino secundário.

18h - Reencontro com José Marmelo e Silva – Biblioteca Municipal (Organização da Câmara Municipal da Covilhã)

  • Intervenção do Presidente da Câmara Municipal, Vitor Pereira
  • Inovação e modernidade na ficção de José Marmelo e Silva, por Fernando Paulouro
  • Apresentação do livro Sedução e outras ficções de José Marmelo e Silva
  • Momento musical – Miguel Carvalhinho
  • Porto de Honra

Imagem


Imagem gráfica - Madalena Sena (UBI / Responsável pelo Serviço de Difusão e Imagem)

Página Web - Susana Costa (UBI / LabCom.IFP)

cartaz

Informações


Transportes públicos:

  • A partir de Lisboa: poderá viajar de comboio ou de autocarro. A viagem poderá demorar cerca de 3h30 a 4h.
  • A partir do Porto: só poderá viajar de autocarro. A viagem demora cerca de 3h30 a 4h.

Para informações sobre horários e preços:

De carro:

  • A partir de Lisboa: o acesso à Covilhã é feito pelas autoestradas A1 e A23;
  • A partir do Porto: pelas autoestradas A1, A25 e A23.
  • GPS - +40° 16' 40.31" -7° 30' 32.30"

Alojamento:

Poderá alojar-se num dos hotéis que se encontram a uma distância de cerca de 10 a 15 minutos (a pé) do local das conferências:

Contactos


Correio eletrónico
jms.letras.ubi@gmail.com

Morada

Universidade da Beira Interior
Faculdade de Artes e Letras
Departamento de Letras

Rua Marquês D'Ávila e Bolama
6201-001 Covilhã, Portugal