Seminário de Teoria Política: Emoções Políticas II
Seminário de Teoria Política
Emoções Políticas II
22 Março 2019
Sala dos Conselhos / UBI
Great democratic leaders, in many times and places, have understood the importance of cultivating appropriate emotions, and discouraging those that obstruct society's progress toward its goals. Liberal political philosophy, however, has, on the whole, said little about the topic. Martha C. Nussbaum
Modern political thought, contractarian and liberal, mostly reflects a rationalism aimed at stabilizing political order and expunge conflict via subjective rights to individual liberties and a “rule of law” to regulate oppositions between the latter. The rule of law is a stabilizer that would allow a “race of intelligent devils” (Kant) to pursue, individualistically, each of their selfish interests. Modern liberalism tends to undervalue emotions, reducing them to a neutral energy to be employed by a reason that would sublimate negative passions into useful positive impulses.
Politically relevant emotions, however, are not always and necessarily subject to the liberal transmutation of vices into virtues – particularly in times of crisis. In a more realistic fashion than its modern counterpart, classical political thought places political passions, alongside the logos, at the heart of its reflection. According to Aristotle, the action of the statesman is essentially therapeutic. The aim of this action, that works with emotions, is to promote “political friendship” and abate the intensity of “enmity” within the polis. More recently, Carl Schmitt, with a frame of thought no longer referencing a substantial good, refocused “the political” on the relevant feelings of friendship and enmity.
In present times, the migration of human masses, motivated by wars or situations of abject poverty, provoke, in host countries, emotional reactions of hospitality and xenophobia which, for lack of an obvious liberal solution to the problems that they cause, eventually come to lead to significant political tensions and instability in those countries.
In light of all this, the purpose of this colloquium is twofold: To foster a significant reflection on politically relevant emotions and their effects; to consider the difficulties of liberal democracies and the weakness of the human rights instrument in addressing the problems arising from mass migrations.
Program
14h30
Alexandre Franco de Sá (Univ. Coimbra)
Por amor da humanidade: direitos humanos, guerra e superioridade moral
André Santos Campos (UNL/IFILNova)
Afectos e Afecções. Repensando o Princípio de Todos-Afectados
16h30 - Pausa
16h45
António Bento (UBI/Labcom.IFP)
Uma Descida no Maelström das Emoções. Ética, Retórica, Estilo
Abstracts
Alexandre Franco de Sá, Por amor da humanidade: direitos humanos, guerra e superioridade moral
Em política internacional, os direitos humanos surgem contemporaneamente associados à autorização de interferências e ingerências humanitárias levadas a cabo a partir de sentimentos humanistas. Tal gerou um conjunto de críticas aos direitos humanos por parte de um conjunto de autores que encontraram neles apenas um recurso retórico ao serviço de ímpetos imperialistas. A presente comunicação visa abordar o ponto comum existente entre o uso político dos direitos humanos e os seus críticos: um sentimento de superioridade moral. Tratar-se-á de mostrar as consequências políticas desse "sentimento" e de articulá-lo com possíveis alternativas.
André Santos Campos, Afectos e Afecções. Repensando o Princípio de Todos-Afectados
A procura pelo critério de pertença à classe dos titulares de direitos de participação política conduz muitas vezes à mera formulação da "afectação". Alguém tem o direito de participar numa qualquer fase do processo de tomada de decisão em política se vier a ser afectado de alguma forma por essa decisão por tomar. Porém, o critério assim definido é demasiado abrangente para delimitar com eficácia bastante o limite para além do qual se distingue o membro de uma comunidade política do seu não-membro. Nesta comunicação, partindo do enquadramento conceptual definido na primeira modernidade acerca da distinção entre afectos e afecções, será operada uma reflexão em torno do alcance do princípio de todos-afectados, mormente acerca do que significa "afectado" no que concerne a uma política de inclusão nas sociedades contemporâneas.
António Bento, Uma Descida no Maelström das Emoções. Ética, Retórica, Estilo
Com o decorrer do tempo o tratamento filosófico do problema das emoções políticas torna-se cada vez mais urgente e decisivo. A metáfora marítima do “Maelström das Emoções”, retirada de um conto de Edgar Allan Poe, espelha aqui o perigo e a espectacularidade ambígua do vórtice ou redemoinho emocional que age no interior desse grande sorvedouro ou funil político em que hoje nos encontramos por força das nossas ambivalentes “flutuações da alma”. Daí a exigência e a urgência de uma «governabilidade» política das emoções capaz de ordenar e de minimamente regular os desarranjos da “electricidade emocional” global. Precisamos cada vez mais de conceber uma ética das emoções à altura dos desafios do «emocionalismo» e «sentimentalismo» político contemporâneos, determinados de maneira decisiva pela tecnologia. Sabemos que a vida gregária das emoções está primariamente conectada às afecções de dor e de prazer. As emoções, pensava Aristóteles, introduzem mudanças na nossa faculdade de julgar sem que delas sejamos plenamente conscientes. Quem, hoje, é capaz de recitar de cor algumas das definições e explicações modernas das emoções apresentadas em Paixões da Alma,de Descartes, no Tratado Sobre a Natureza Humana, de Hobbes, na Ética de Espinosa? De Aristóteles ao legado moderno, esta comunicação questionará a possibilidade de efectivação de uma experiência pública das emoções a partir dos recursos médicos da Retórica no seu vínculo fundamental com a Ética. Vagabundeando de modo livre e apressado pelo que Aristóteles, Descartes, Hobbes, Espinosa, Nietzsche, Canetti, Arendt e Nussbaum escreveram sobre as emoções, mas também sobre o tratamento que lhes dá um escritor da grandeza de Céline, pretende-se olhar criticamente para a “tempestade emocional” que nos nossos dias varre a política contemporânea.