Da fé na Comunicação à comunicação da Fé
Quanto ao cristianismo, se o testemunho (martyros) foi naturalmente a primeira forma de anúncio (kerigma) da experiência pascal, rapidamente a evangelização no ambiente cultural, filosófico e retórico do helenismo teve de recorrer à linguagem - o grego da koinê e as suas categorias -, já para se universalizar e tornar compreensível aos gentios, já como incoativo espaço de formulação e auto-compreensão, processo que patenteia uma profunda confiança nas virtualidades da comunicação.
Ora, o que se torna problemático, nesta utilização que o cristianismo faz da retórica, é precisamente a ligação que estabelece, na pregação, entre palavra e verdade. Até que ponto é possível compatibilizar a relatividade do instrumento como o carácter absoluto do conteúdo, o meio como a mensagem? Este problema ganha hoje, em plena "sociedade da comunicação", a sua máxima acuidade: com efeito, esta é uma sociedade em que, por um lado, todos os discurso particulares reivindicam o seu direito à existência pública e a sua pretensão de verdade, mas, por outro lado, têm sempre no seu horizonte um desejo de universalização - e de poder - mais ou menos visível.
Pretende-se assim, neste Colóquio, cruzar investigações no âmbito do pensamento antigo e patrístico - ou também apostólico, visto que Paulo de tarso é quem pela primeira vez inscreve o kerigma cristão no espaço da retórica grega, indo falar ao coração do helenismo, o Areopago ateniense - com investigações contemporâneas no âmbito da comunicação, tentando detectar confluências e analogias, mas também disparidades e diversidades entre as abordagens de ambos os domínios de investigação.